Governo avalia que alta na arrecadação compensaria perda com reforma do Imposto de Renda

14 de setembro de 2021
Por: Vânia Rios

Avaliação está em nota da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia. Secretário do Tesouro disse na semana passada que reforma do IR pode tirar R$ 20 bi da arrecadação.

A Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia avaliou nesta segunda-feira (13) que a arrecadação federal terá em um “crescimento estrutural adicional”, ou seja, de forma permanente, o que possibilitaria reduzir impostos na reforma do Imposto de Renda sem comprometer o ajuste das contas públicas.

Segundo os cálculos da área econômica, após análise que considera o crescimento do PIB real e a arrecadação deflacionada (valores corrigidos pela inflação), o maior nível real da atividade indica elevação de cerca de R$ 72 bilhões na arrecadação em 2021 e 2022, valor classificado como “efeito estrutural”.

“Mantendo a continuidade da recuperação econômica no próximo ano e assumindo que o deflator implícito do PIB continue acima do IPCA, projeta-se que o crescimento nominal da arrecadação no ano que vem fique em terreno positivo e acima da variação do IPCA. Dessa forma, indicando que parte relevante dos valores acrescidos na tributação total deste ano são permanentes”, informou.

No início deste mês, o secretário especial do Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Bruno Funchal, afirmou que as mudanças nas regras do Imposto de Renda discutidas no Congresso Nacional podem reduzir a arrecadação do governo em R$ 20 bilhões em 2022.

O texto da reforma já passou pela Câmara dos Deputados e agora deve ser votado no Senado, que pode fazer mudanças.

Entre outros pontos, o texto da reforma do Imposto de Renda prevê:

    isenção do imposto para trabalhadores celetistas que recebem até R$ 2,5 mil;
    manutenção da possibilidade da declaração simplificada para todas as faixas de renda;
    redução de 7 pontos percentuais no imposto das empresas e de até 1 ponto percentual na alíquota de contribuição social,
    tributação e lucros e dividendos com alíquota de 15%.

De acordo com a nota informativa da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, divulgada nesta segunda-feira, a reforma tributária do Imposto de Renda, que implicará em uma redução líquida de impostos, “não compromete no longo prazo a evolução da razão dívida bruta em relação ao PIB e mantém a trajetória de redução do déficit fiscal para os próximos anos”.

Outros cálculos
Segundo cálculos da Instituição Fiscal Independente, vinculada ao Senado, o projeto pode gerar perda de R$ 28,9 bilhões em 2022; de R$ 11 bilhões em 2023; e de R$ 12,3 bilhões em 2024.

O cálculo, conforme a IFI, engloba governo federal, estados e municípios e considera as mudanças no Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), na Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL), o fim dos juros sobre capital próprio, a reversão de benefícios fiscais, a correção da tabela do Imposto de Renda, a tributação de lucros e dividendos e a limitação do desconto simplificado.

Para o Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda dos Estados e do DF (Comsefaz), as mudanças no IR podem levar à perda anual de R$ 41,3 bilhões na arrecadação do imposto. Desse total, deixam de entrar para os cofres públicos da União R$ 22,1 bilhões ao ano.

A perda de arrecadação para estados e municípios, de acordo com o Comsefaz, totaliza R$ 19,3 bilhões anuais.

Ainda de acordo com o Comsefaz, no entanto, a União será compensada em RS 18,55 bilhões em razão do fim de incentivos setoriais de PIS/Cofins. Com isso, o rombo federal cairia para cerca de R$ 3,5 bilhões. Estados e municípios, diz o comitê, não terão a mesma compensação.

Tributos sobre o consumo
A reforma do IR é a segunda parte de uma reformulação mais ampla das regras tributárias, iniciada em 2020 com a proposta do governo federal para mudanças na tributação sobre o consumo por meio da unificação do PIS e do Cofins (incidente sobre a receita, folha de salários e importação), criando um tributo sobre valor agregado, com o nome de Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS).

Além do governo, outras propostas também estão sendo avaliadas pelo Legislativo. Estas unificariam, além de tributos federais, impostos estaduais e municipais.

Entretanto, enquanto propõe reduzir a carga tributária sobre a renda, que já é baixa no Brasil, na comparação com os países mais desenvolvidos, as propostas em discussão também mantêm inalterado o elevado peso dos impostos sobre o consumo no Brasil — penalizando assim a parcela mais pobre da população.

Para substituir o PIS-Cofins por um imposto sobre o consumo federal, a área econômica propôs uma alíquota de 12% que, com a inclusão dos tributos estaduais e municipais, segundo analistas, poderá se elevar para cerca de 30% a tributação sobre o consumo — nível alto para padrões internacionais.
Fonte: G1

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