Setor de serviços segue no negativo contra o pré-pandemia e segura retomada do PIB

1 de setembro de 2021
Por: Vânia Rios

Comparação com o pior trimestre da história mostra crescimento de dois dígitos, mas desemprego continua alto e renda fica comprometida pela inflação da energia elétrica, combustíveis e alimentos.

Há quase um ano, a economia brasileira registrava oficialmente uma queda histórica impulsionada pela pandemia do coronavírus. O segundo trimestre de 2020 havia registrado uma queda de 11,4% do Produto Interno Bruto (PIB) comparado ao mesmo período do ano anterior, número sem precedentes na história.

Agora, a base de comparação baixíssima – e não uma recuperação acelerada – explica a alta de 10,8% do setor neste segundo trimestre em relação ao mesmo período de 2020, como divulgado nesta quarta-feira (1º), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Frente ao primeiro trimestre deste ano, os serviços cresceram 0,7%.

Se comparado ao quarto trimestre de 2019, o anterior imediato ao impacto inicial da pandemia, no entanto, o segundo trimestre deste ano registra queda de 0,1%. Os cálculos são do Monitor do PIB, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Não bastasse, zerar as perdas da pandemia não significa uma situação de conforto econômico. Isso porque a recuperação foi desigual entre os setores e ainda impacta de forma mais intensa os setores que geram mais emprego.

Nas contas do Ibre/FGV, o setor de serviços ainda tem queda de 0,9% em relação ao quarto trimestre de 2019. Com o peso de mais de 60% do PIB, é daqui que sai a maior parte dos empregos do país.

No segmento mais sofrido, o de Outros Serviços, a queda comparada ao pré-pandemia ainda é de 7,2%. Fazem parte dessa divisão os serviços prestados às famílias. É o caso de bares, restaurantes, hotelaria, educação e tantas outras atividades que dependem da interação social presencial que foi afetada pela pandemia.

A defasagem do setor de serviços é, certa forma, compensada por duas categorias. A primeira é a indústria, em específico a de transformação. Ela foi beneficiada ao longo de 2020 pela substituição dos hábitos de consumo, que saíram dos serviços e foram para os bens, e pelo Auxílio Emergencial, que elevou a renda da população quando repassava R$ 600 ao mês para os beneficiários.

A segunda é a agropecuária, favorecida pelo aumento do consumo de produtos básicos no país e pelas exportações. Ambas, contudo, têm prognóstico mais negativo para o restante de 2021 com o retorno dos gastos justamente para os serviços.

“É uma normalização. Ainda estamos distantes de uma aceleração da economia. E essa velocidade seria muito maior se não tivéssemos um cenário inflacionário desfavorável à frente”, diz Silvia Matos, economista do Ibre/FGV e coordenadora do Monitor do PIB.

A economista projeta um crescimento de 5,2% do PIB em 2021. Em 2022, apenas 1,6%. Nenhum dos cálculos, contudo, contempla a possibilidade de um racionamento de energia. Se esse for o caso, as previsões virariam pó.

“Com os riscos que temos no radar, a chance de uma revisão para baixo é muito maior que para cima”, afirma Silvia.

Crescimento distante
Na vida real, a retomada mais fraca do setor de serviços significa desemprego ainda em patamares altos. O IBGE mostrou nesta terça-feira (31) que a taxa de desemprego no Brasil ficou em 14,1% no trimestre, o que equivale a 14,4 milhões de brasileiros.

Há quem, desde o início da pandemia, não tenha conseguido normalizar seus ganhos com o trabalho. A babá Caierica Santos, de 32 anos, passou por um processo de diminuição de renda desde a chegada do coronavírus ao Brasil.

Em março de 2020, ela foi afastada do trabalho de carteira assinada em uma casa de família por conta do início da quarentena contra o vírus. Quando retornou, em meados de maio, passou a trabalhar apenas três vezes por semana. Em novembro, veio a demissão.

De lá para cá, Caierica recebeu cinco meses de seguro-desemprego, que lhe pagava metade do salário que tinha. Ao final dos pagamentos, passou a viver de bicos. A renda não passa de R$ 1 mil para criar os três filhos.

“Quero voltar para minha área, mas estou aceitando o trabalho que vier”, diz ela.

Caierica é apenas um exemplo de tantos mapeados pelo G1. Além de um mercado de trabalho apertado, a inflação é a novidade no comparativo entre os trimestres. Em julho de 2020, o acumulado em 12 meses da inflação oficial do país era de 2,31%. No mesmo mês deste ano, de 8,99%.

A relação entre inflação e desemprego forma uma estatística econômica chamada de “índice de miséria”. O indicador simplificado serve de termômetro da satisfação da população com o panorama econômico atual.

Como mostrou reportagem do G1, o índice renovou recorde histórico em maio e deve continuar subindo até agosto. Nos meses seguintes, o desemprego deve colher alguma melhora por conta do avanço da vacinação contra a Covid-19, mas choques inflacionários seguem com vigor, afetados pelos preços da energia elétrica, combustíveis e alimentos.

Sem poder de compra, o consumo das famílias, grande motor de crescimento, também se arrasta. O Monitor do PIB ainda registra queda de 3,0% comparado a 2019.

Para o economista Chico Pessoa, da LCA Consultores, três fatores são preponderantes para que o alívio dos próximos meses se realize de fato. De início, a vacinação precisa prosseguir sem grande ressurgimento da pandemia. Nesse caso, a variante delta permanece no radar enquanto as doses são aplicadas.

O segundo aspecto é não manobrar sem prudência com as contas públicas. O terceiro é tentar dar alguma estabilidade ao ambiente político. No centro das questões está um arcabouço para reduzir a desvalorização do real frente ao dólar e, assim, acalmar a inflação.

“Por mais que ainda tenha muita gente sem trabalho, os dados da Pnad [desemprego] são bons. O que é preciso é reduzir ao máximo o número de choques daqui para a frente”, diz o economista.
Fonte: G1

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